Pro Coletivo

8 de dez de 20172 min

“Afinal, queremos mover gente ou veículos?”

Esta pergunta, feita por Luis Antonio Lindau, diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, mostra como estamos perdidos no que se refere à mobilidade. Há décadas vivemos em cidades construídas para os carros e sem se preocupar com as pessoas.

O 1º Fórum de Mobilidade Urbana Estadão 99, que aconteceu na terça, dia 5, com o patrocínio da 99, reuniu nomes importantes da mobilidade para debater esses e outros paradigmas, mergulhando em um tema que tanto afeta a vida das pessoas. Entre tantas falas lúcidas e inspiradoras, destacam-se algumas ideias que podem nos fazer refletir sobre um jeito melhor e mais inteligente de viver e se mover:

“Existem quatro elementos que podem causar uma mudança positiva na mobilidade: a revolução energética, com veículos elétricos movidos a energia sustentável; a direção autônoma; o compartilhamento de carros e uma atitude proativa do governo. Melhorar a mobilidade urbana depende do governo, das empresas e dos cidadãos. A questão é que a governança está estática, não está se mexendo. E ela é despreparada para lidar com a economia compartilhada.Temos muito trabalho pela frente.”

Ciro Biderman, professor da FGV e pesquisador associado no Centro de Estudos da Política e Economia do Setor Público (CEPESP/FGV)

“Afinal, queremos mover gente ou veículos? Precisamos melhorar a mobilidade humana e não a dos veículos. Precisamos desestimular o uso do automóvel. E desestimular não é proibir. As cidades que estão reduzindo a poluição do ar fazem isso. Na mobilidade, a inovação tecnológica sustentável é a que aumenta a sustentabilidade das cidades. Temos que pensar pelo todo, pelo coletivo, e não pelo individual.”

Luiz Antonio Lindau, diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis

“Além do tempo que o trânsito rouba da gente, cada cidadão também sente no bolso o custo altíssimo do transporte no Brasil. Paga-se muito por pouca eficiência. A família média brasileira gasta 20% da renda com transporte, boa parte disso com transporte privado. O custo do transporte público também é muito maior do que em outras grandes metrópoles do mundo. Equivale a 17% do salário mínimo em São Paulo e Rio de Janeiro, um peso enorme no bolso do brasileiro se compararmos, por exemplo, com o gasto do morador de Xangai (4%).”

Peter Fernandez, CEO da 99

“Em São Paulo temos 12 milhões de pessoas, 8,3 milhões de veículos, segundo dados do Detran de 2016, e 45% de viagens feitas por pedestres. Apesar de um terço dos deslocamentos ser feito a pé, o carro ocupa a maior parte do espaço, cerca de 80% do sistema viário. Esse é o reflexo de uma verdadeira doença das cidades brasileiras, desenhadas para os automóveis. Vamos mudar essa realidade, valorizar o pedestre e o ciclista, proteger o ser humano. Ele que é o verdadeiro rei no universo da mobilidade.”

Sérgio Avelleda, Secretário Municipal de Mobilidade de São Paulo

“Os transportes afetam a saúde das pessoas e a sustentabilidade das cidades. Precisamos mudar o paradigma, o nosso comportamento e renunciar ao sonho vendido durante décadas do carro individual, construindo um novo sonho de compartilhamento e uso de diversos modais, com base no transporte coletivo e no transporte ativo”.

Carolina Tohá, cientista política, Ex-Prefeita de Santiago, acadêmica e pesquisadora

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