Por Carlos Monteiro

29 de ago de 20203 min

Deixem meu quintal em paz!

Pois é gente, novamente essa história de invadirem nosso quintal.


 
Parece filme repetido nas madrugadas da TV aberta, parece figurinha bisada no envelope finório.


 
Uma ladainha que, volta e meia, cai no mesmo abstratismo.


 
Qual a história por trás da história?


 
A Cobal do Humaitá é coisa nossa. É coisa carioca, é tombada pelo Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro e não poderia ser de outra forma.


 
Espaço descolado em Botafogo e adjacências, além de polo gastronômico, reúne de tudo um pouco. Tem para todos os gostos cobiçosos de sabores. Tem mercado e chope gelado. Tem arroz de rabada e ‘caipifruta’ no pote. Tem rosa, orquídea, camélia em flor. Tem a Chica, gata manhosa do seu Antônio, que sempre vem dar boas-vindas aos
 

 
clientes que vão em busca de clima primaveril.

O espaço foi inaugurado em 1971, numa área de quase 10 mil metros quadrados, entre as ruas Voluntários da Pátria, Humaitá e Marques, fronteiriça, ou quase, a Lagoa e o Jardim Botânico.


 
Inicialmente se destinou, apenas, a venda de hortifrutigranjeiros. Com o passar do tempo, ‘cariocou-se’. Mostrou sua verdadeira face cultural-gastronômica-etílica. Que o digam seus mais de 14 mil visitantes diários (números de antes da pandemia). A Cobal é maravilhosa!
 

Segundo consta, a Conab – Companhia Nacional de Abastecimento, não vem renovando os contratos que, outrora, se davam a cada cinco anos. Alega que há comerciantes inadimplentes e que teve ganho de causa promulgado pela justiça. Por sua vez, alguns comerciantes se dizem
 

 
adimplentes e que, mesmo assim, não conseguiram as renovações. Parece um imbróglio com cara de dramalhão mexicano, mas como serão os próximos capítulos dessa novela que poderá levar ao desemprego, direto e indireto, dezenas de milhares de pessoas?

A Cobal tem seu charme especial, tem a cara daquele quintal de casa da vó. Aquela coisa solta e com um certo grau de pasmaceira pós-almoço, local para um bate-papo gostoso, para encontros desencontrados e inesperados de gente muito querida.

Quantas vezes cruzei por lá e acabei ficando por ter encontrado aquele amigo boa-praça, aquela amiga gente boa. Bateu até uma saudade agora da Cristina Chacel, pessoa incrível e um papo adorável. Era na Cobal que “não” marcávamos e sempre nos encontrávamos.


 
Já rola um movimento em prol do não fechamento ou privatização do local. A galera se mobilizou e, até a noite de quinta-feira, dia 27, já eram exatas 16.842 assinaturas em um abaixo-assinado on-line. Nesse dia aconteceu um abraço coletivo na Cobal, uma forma simbólica de proteger esse lugar que faz parte da história e do patrimônio do Rio de Janeiro.

E meu sábado, repetido quase como um mantra antes da pandemia: compras de frutas, legumes, verduras, mel, peixe, flores, o pão nosso de cada dia, quase artesanal, um acarajé da baiana, regado a uma ‘caipivódica’ de tangerina no pote, um expresso e, para viagem, umas guloseimas árabes e uns engordativos, repletos de afeto, salpicados do mais puro confete doce.

E o arroz de rabada, os pastéis, as tortas, a pizza, o churrasco, o japa...

E as rodas de samba? E as rodas de choro? Querem nos tirar isso?


 
Querem fechar mais um local que conta a história da cidade?


 
Querem apagar o passado cultural do Rio?


 
Nananinanão!


 
Não põe a mão no meu violão! Desta vez não mesmo!


 
Tirem o pé do meu quintal!


 
Ele é meu, é nosso, é de todos, é do Rio.

Para assinar: https://secure.avaaz.org/community_petitions/po/Governo_Federal_Em_defesa_da_Cobal_Humaita/?fpla

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