Por Carlos Monteiro

6 de nov de 20202 min

Gentileza gera gentileza

O Profeta Gentileza e sua delicadeza em flores astrais, físicas e

espirituais, distribuídas e semeadas, ao longo de anos, pela Cidade

Maravilhosa e terras de Araribóia, foi telúrico, metafórico e visceral.

Mostrou ao Rio de Janeiro que, se quisermos, “Celacanto não provoca

maremoto”, não provoca sismos, não provoca guerras. Muito pelo

contrário, a gentileza é agente provocadora de paz e gratidão... era José

Agradecido.

Vivemos momento conturbado em que o coletivo tem tomado muito mais

as formas ‘eu’ e ‘meu’, em que as almas têm se trancado em feudos,

murados de egos, aflorados em ids, desequilibrados em superegos.

Momentos de um ‘venha a nós, deixando ao vosso reino absolutamente

nada’.

Ímpar em sua singularidade, o “eu maior” rege esse império, mesmo que

esta monarquia seja protegida por exércitos brancaleônicos fardados em

utopias e quimeras.

As chamas das fogueiras da vaidade, mais que nunca, são lume do

egoísmo, atiçadas pelo mal querer, pelo mal poder e, principalmente, pela

má vontade. A soberba toma formas inusitadas, encimadas pela falta de

humanidade.

“...El amor es torbellino de pureza original.../...El amor con sus esmeros al

viejo lo vuelve niño/Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero...” é a

mais pura tradução da alquimia do amor nos versos de Violeta Parra.

A vaidade vem tentando fincar raízes, mas o terreno é pantanoso, instável

e perigoso; porque “...O homem que diz sou/Não é!/Porque quem é

mesmo é/Não sou!/O homem que diz: Tô/Não tá!/ Porque ninguém

tá/Quando quer...”. Saravá Baden! Saravá Vininha! Saravá Ossanha!

Os tentáculos ardilosos da veleidade fazem imergir ufanismos perversos

capazes de afastar, sobremaneira, o que há de melhor em cada um.

Aforismos. O amor deve ser pago com amor? Gentileza gera gentileza?

Nome-do-pai...? Adágios de realidade em sociedade. Mero apotegma

existencial.

Dias difíceis em que a solicitude e prestatividade ficaram em baixa. O

“novo normal” suscitou sentimentos divergentes, pintou cenários

plúmbeos, deixou a psique à deriva. Generosidade não é mais a palavra de

ordem... Talvez Freud explique, ou não...

A velha esperança de tudo se ajeitar deve brotar no amor sublime e na

partição do pão nosso de cada dia.

Por mais tapumes Lerfá-Mur em chão de giz! Por mais ‘Gentilezas’, por

mais rosas vermelhas do bem querer, por mais loucos de amor e malucos-

beleza.

Que brotem sementes, frutificando todo sentimento nas metáforas mais

sutis e belas, delicadas e diferentes.

Deixa fluir o amor!

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