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A criança e a mobilidade em São Paulo


A reportagem do Pro Coletivo conversou com a arquiteta e urbanista espanhola Irene Quintáns, fundadora e diretora da Rede OCARA (www.redocara.com), rede latino-americana de experiências e projetos sobre cidade, arte, arquitetura, mobilidade urbana e espaço público, nos quais participam crianças.

Irene é afiliada a IPA Brasil, Associação Brasileira pelo Direito de Brincar e à Cultura (ipabrasil.org). Portanto, a infância e os direitos da criança, que incluem a cidadania e a mobilidade, são questões de suma importância para esta arquiteta e urbanista, que mora em São Paulo com o marido, arquiteto brasileiro, e os dois filhos.

Para Irene, a cidadania das pessoas, e inclusive da criança, só é exercida quando a cidade e as ruas são ocupadas, vivenciadas, observadas, questionadas.

Moradora da região central da capital paulista, ela anda diariamente a pé e de transporte coletivo com o marido e os filhos pequenos, oportunidades em que conversa com eles sobre a cidade e suas necessidades. "Muitas vezes, andando na rua, reflito com meus filhos sobre a necessária redistribuição do espaço urbano, que deve acolher também ciclistas e faixas exclusivas de ônibus; ou ainda observamos cenas da cidade, como uma árvore toda florida ou um grafite novo no muro. A criança, para ser cidadã, precisa andar e conhecer a cidade. E a melhor forma é fazer isso com os pais diariamente, indo e voltando da escola", diz Irene.

Além de desenvolver a empatia com os outros, um valor fundamental para a vida em sociedade, esse caminhar diário é muito saudável e importante, observa a urbanista: "Uma criança que só é transportada de carro não conhece a diversidade de uma cidade com pessoas, situações e necessidades diferentes. Ao mesmo tempo, ela é privada do contato com a natureza, com o sol - fundamental para o crescimento saudável - e com a a atividade física diária. Vários estudos internacionais mostram que as crianças que pedalam ou caminham diariamente para a escola têm mais concentração para desenvolver atividades complexas". Sabe-se que no Brasil o sedentarismo, o sobrepeso e a alimentação inadequada têm levado milhões de crianças a doenças crônicas como o diabetes.

Além disso, ela lembra que uma cidade segura para crianças é segura para toda a população. "Quanto mais a cidade é ocupada, mais segura ela se torna".

Precisamos garantir às novas gerações o direito de usufruir dos espaços urbanos. A superproteção adulta, justificada pela percepção da redução da segurança nas ruas e do aumento no número de acidentes de trânsito, não melhora as coisas, ao contrário. Quanto mais as crianças ficarem afastadas do espaço urbano, menos ele se tornará confortável e saudável para elas. Vista da janela dos carros, uma cidade é distante, fria e sem sentido. Para que possamos todos cobrar, dos governos e de todas as instâncias da sociedade, melhorias para a cidade e o bem-estar da população, precisamos vivenciar a cidade, conhecê-la, percorrê-la, investigá-la.

"Sem andar pela cidade, crianças e adultos não se sentem pertencentes a ela", observa Irene.

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