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  • Anna Paula Serodio, do Pro Coletivo

Carro inteligente é carro cheio de gente


O carro já foi considerado o “cavalo da família” (por Henry Ford, pioneiro na indústria de automóveis, em 1908) e também já foi um dos maiores símbolos de status. No Brasil, que copia o modelo norte-americano há décadas, essa crença trouxe problemas que ficaram aguçados nos dias de hoje, como a histórica falta de investimentos no transporte coletivo e as políticas públicas que desprezam pedestres e ciclistas. Estão aí as cidades brasileiras, de todos os portes, ausentes de calçadas, ciclovias e espaços públicos para o bem-estar dos caminhantes, das pessoas.

Bem, esse império foi terminando e no século 21 o carro se viu comparado a um dos grandes males da sociedade, o cigarro. O carro é o novo cigarro, diziam cientistas, pensadores e líderes do mundo todo. Exagero? Pode parecer uma comparação pesada, mas de fato ele vem sendo apontado, em todo o planeta, como um dos maiores vilões para a saúde. Para ter uma ideia de seus malefícios, só em São Paulo, onde os carros são responsáveis por 73% dos gases poluentes (de acordo com um estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente - Iema), acontecem cerca de onze mil mortes por ano causadas pela poluição.

Eliminar totalmente o carro das ruas parece distante e utópico, especialmente no Brasil (lá fora, há uma evolução maior desse tema, com políticas voltadas ao combate da poluição e ao bem-estar da população).

Além disso, ele pode ser usado de forma mais inteligente, consciente e útil. Como? Simplesmente transportando mais pessoas. A média em São Paulo é de 1,4 pessoa por veículo. Baixíssima. O importante é usar a capacidade total do veículo. Se cabem cinco, porque a maior parte dos carros roda com um indivíduo apenas? Só esse detalhe pode melhorar a triste situação das ruas congestionadas e reduzir a poluição. O mesmo número de pessoas poderia se deslocar com menos carros rodando. O grande problema não é o carro em si, mas o seu mau uso, que tem como consequência o congestionamento e a poluição.

Esse cenário de compartilhamento de veículos requer atitudes voltadas à coletividade, e não à individualidade. Pode ser difícil no começo, mas precisamos começar, persistir, motivar os amigos, familiares e vizinhos... Não vamos deixar cidades ainda piores e irrespiráveis para as próximas gerações.

Recentemente, em entrevista ao Portal da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), Nelson Silveira, diretor de Comunicação Corporativa da General Motors (GM), enfatizou que o carro não é o novo cigarro. “A indústria automobilística está dando respostas às críticas investindo na eficiência dos atuais motores a combustão interna, inovando com o carro elétrico e autônomo, e criando soluções de mobilidade para atender à economia do compartilhamento”, ele declarou, na conversa com a jornalista Maria Tereza Gomes.

Ótimo que a indústria venha com soluções sustentáveis e inovadoras, mas nós também precisamos nos mexer para melhorar a nossa saúde e das nossas cidades.

Nós, do Pro Coletivo, costumamos dizer que carro inteligente é carro cheio de gente. Fazer um passeio de carro com quatro ou cinco pessoas, por exemplo, é bem diferente do que se deslocar sozinho diariamente para o trabalho.

Se levarmos em consideração que 80% do espaço viário é utilizado por carros e motos enquanto 20% dos deslocamentos são feitos de transporte coletivo, bicicleta ou a pé, percebemos que os carros estão ocupando as cidades de forma desgovernada, causando efeitos nocivos para a saúde.

Ao constatar que o paulistano passa 45 dias do ano preso no trânsito, acho que a ficha cai mais ainda.

E, por fim, concordamos com Nelson Silveira. O carro não deve ser comparado ao cigarro. Talvez, sim, deva ser comparado ao vinho. Se você beber uma taça por dia só terá prazer e benefícios para a saúde, mas se entornar uma garrafa diariamente conseguirá sérios problemas sociais e de saúde. A diferença é que o vinho não deprecia como o carro.

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