De mãos dadas na cidade
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Caminhar com os filhos é positivo para as crianças, para os pais e para toda a comunidade
Nesse mês de julho, de férias escolares, vale refletir um pouco sobre o que significa a mobilidade para os pequenos habitantes das grandes cidades brasileiras. Para boa parte das crianças e adolescentes de São Paulo, o ir e vir está sempre relacionado ao carro. Das janelas dos automóveis dos pais, eles enxergam reflexos da cidade, mas não participam dela.
Segundo a urbanista espanhola Irene Quintáns, que mora há seis anos na capital paulista, isso é preocupante: “Privar a criança de caminhar pela cidade não é positivo. Ela não se sente pertencente ao seu bairro e desconhece a diversidade que uma metrópole oferece, com as pessoas e as situações mais diversas”.
Uma criança que fica circunscrita à locomoção no carro tende a ficar insegura, quando for mais velha, para se movimentar livremente. Ela também tem mais dificuldade em perceber o outro, em se colocar no lugar dele. Isso se chama empatia e é muito importante para a vida em sociedade.
Fora isso, há a questão do sedentarismo, do sobrepeso e da falta de luz solar. Estudos internacionais mostram que as crianças que caminham ou pedalam para a escola têm mais concentração para desenvolver atividades complexas.
Lá fora, é muito comum ver crianças andando juntas pela manhã. No Japão, elas vão à escola acompanhadas dos pais quando pequenas e em grupos quando maiores. Nem se cogita nesse país chegar de carro ao colégio. Os estudantes precisam ser matriculados nas escolas de seus bairros, para evitar a locomoção motorizada.
Já Bogotá tem um projeto maravilhoso de mobilidade escolar, o “Al colegio en bici”, com rotas de confiança onde as crianças pedalam diariamente.
Em algumas regiões de Londres, os pais que levam seus filhos à escola de carro são multados em £ 100. A medida foi adotada em março deste ano e faz parte do programa de restrição do uso do automóvel na cidade.
Se isso fosse feito em São Paulo é possível imaginar a grita dos pais, alegando “o direito de ir e vir”. Na capital britânica houve um consenso de que a medida, embora pouco simpática, melhora a segurança das crianças, evitando acidentes e a poluição do ar. É o interesse do coletivo acima do particular.
Na capital paulista nós temos um bom projeto que estimula os pequenos a caminhar: o Carona a Pé, criado há dois anos pela professora Carolina Padilha em um colégio na região central da cidade. Programa que reúne pais e crianças para caminhar juntos, em uma rota pré-determinada, o trajeto de ida e volta da escola, ele conta hoje com oito rotas, com mais de 80 crianças e 20 adultos envolvidos. “Eu tenho certeza que, se essas crianças um dia escolherem ser motoristas, elas vão ser as pessoas que esperam os outros atravessarem a rua, porque elas já estiveram nesse papel, de pedestre”, diz Carolina.
Quando toda a sociedade se envolve, as melhorias na cidade acontecem. E a mobilidade é uma escolha simples, de cada dia. Na próxima vez que levar seu filho à escola, reflita: por que ir de carro? Que tal descobrir a cidade ao lado dele, aprendendo e trocando ideias sobre o que vocês veem? Ir de ônibus e metrô é o ideal, porque sempre há possibilidade de caminhar bastante, o que é saudável para todos. Com essas atitudes, o entorno da escola pode ser respeitado e poupado (de trânsito, poluição e buzinas) e as crianças aprendem a ser cidadãs, a viver mais o coletivo.