Novas regras do bilhete único vão na contramão da mobilidade inteligente, diz urbanista Raquel Rolni
![](https://static.wixstatic.com/media/b2f912_a5b7a602c3074e37b3a629da459988fd~mv2_d_2560_1920_s_2.jpg/v1/fill/w_980,h_735,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/b2f912_a5b7a602c3074e37b3a629da459988fd~mv2_d_2560_1920_s_2.jpg)
No dia 23 de fevereiro, o prefeito Bruno Covas publicou o Decreto 58.639, que altera várias regras do Bilhete Único na cidade de São Paulo. Não serão mais válidos os Bilhetes Únicos sem identificação e o limite para utilização do carregamento foi reduzido.
As mudanças entram em vigor em 90 dias e preveem o já anunciado fim dos cartões anônimos, a possibilidade de inserções de propagandas nos cartões, e a redução do número de integrações que os usuários poderão fazer com o vale-transporte.
O decreto determina que os usuários do vale-transporte (valor pago por empregadores a seus funcionários) terão agora três horas para fazerem até dois embarques nos ônibus municipais da SPTrans, pagando apenas uma tarifa ( hoje, de R$ 4,30 ). Atualmente, o vale-transporte permite que os passageiros usem o Bilhete Único com vale-transporte para embarcar em até quatro ônibus, durante duas horas.
Segundo a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a principal mudança é realmente a redução do número de linhas que as pessoas podem utilizar durante o período com o Bilhete Único.
De acordo com a professora, o impacto para quem usa o transporte público em São Paulo é enorme. "A meu ver, essas medidas vão reduzir drasticamente as capacidades e as possibilidades de as pessoas circularem na cidade e irão piorar a condição dos usuários em relação aos gastos do transporte", declarou Raquel em entrevista para a Rádio USP.
"Além de ter aumentado o custo do transporte em relação ao salário mínimo, houve o corte de linhas. Essa medida de racionalização de sistemas, que já vinha sendo feita, irá prejudicar muito o dia a dia das pessoas que moram em bairros mais distantes, nas periferias da cidade."
Como lembra Rolnik, elas precisarão pegar muito mais ônibus para chegar ao seu destino. "O resultado é uma bomba de exclusão, no sentido de transformar o transporte, que é um direito e que deveria ser conduzido para melhorar a mobilidade em São Paulo, em uma dificuldade para a população", afirma a professora. "Assim, estamos na contramão da boa mobilidade".