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Livro mostra a cultura da bicicleta nas pequenas cidades do Brasil


Organizado por Daniel Guth e André Soares, o livro “O Brasil que Pedala” passeia pelas realidades das pequenas cidades brasileiras, mostrando como elas são importantes em relação à bicicleta. Em muitas delas, a bike é o transporte principal, por vários motivos: distâncias menores, baixo índice de violência, um estilo de vida mais simples e em contato com a natureza, uma cultura familiar que estimula a bicicleta de geração em geração, entre outros fatores.

“Este livro foi concebido para trazer à tona essa realidade desconhecida para muitos brasileiros e para contrastá-la com a grave situação das grandes cidades, oferecendo-lhes uma alternativa possível, real. Também pretendemos prestar uma homenagem às cidades menores, usuárias da bicicleta, e a seus habitantes, e publicamente declarar o valor da cultura que preservam”, dizem os autores. Foram realizadas 2.208 entrevistas em onze cidades de todas as regiões do país, uma amostra considerável para locais que não superam 100 mil habitantes.

O livro, que pode ser baixado gratuitamente no site da Aliança Bike (aliancabike.org.br) é um alento para todos nós por mostrar como esse veículo inteligente, sustentável, saudável, econômico e transformador resiste e se fortalece no nosso país.

Considerando que as bicicletas se tornaram populares no Brasil a partir de incentivos à indústria nacional, no final da década de 1940, e levando em conta que a popularização da motocicleta é um fenômeno recente — entre 2001 e 2014, o número de motos saltou de 4,5 milhões para 22,8 milhões, uma variação da ordem de 403,7% —, podemos entender que a motorização vem impactando diretamente a cultura da bicicleta nas cidades brasileiras, especialmente onde ela é mais consolidada e histórica (desde os anos 1950): nas cidades pequenas.

Um exemplo envolve as cidades de Cáceres/MT, Tamandaré/PE e Pedro Leopoldo/MG, três entre as onze pesquisadas para o livro. Elas viram explodir sua frota de motocicletas, motonetas e carros entre 2001 e 2017. Mas a alegria é constatar que, apesar do crescimento das viagens realizadas por veículos motorizados seja uma realidade cada dia mais frequente, os resultados das contagens realizadas nas cidades estudadas apontam para a manutenção e a resiliência de uma intensa cultura de uso de bicicletas.

Afuá é o símbolo dessa resistência. Lá a circulação de veículos motorizados é proibida, pois a cidade se encontra sobre águas, com palafitas e pontes, e a totalidade da população se locomove pedalando ou a pé.

A garupa e a carona na bike são constantes em Afuá e em outras cidades que constam no livro. Em Tarauacá, no Acre, por exemplo, em 15% das bicicletas contabilizadas havia uma pessoa na garupa.

E o mais interessante e positivo é perceber que o fluxo funciona bem, sem acidentes de percurso ou problemas. Naturalmente os ciclistas, de todas as idades, mantêm uma direção segura e respeitosa, compartilhando o espaço público de maneira cordial, explicam os autores em um trecho do livro.

"É um conjunto de brasis que forma nosso Brasil, em toda sua diversidade que lhe é peculiar. E veja bem o quão encantador é ver a bicicleta, de norte a sul, leste a oeste despontando como parte de nossa cultura. (...) Em um país com mais de 5.500 municípios, onde 94% de cidades têm menos de 100 mil habitantes, nos acostumamos a falar só nas regiões metropolitanas, onde de fato se concentram os problemas urbanos. Em resposta, numa batalha que parece exaustiva, não cansamos de repetir que a bicicleta é um dos meios de transporte mais eficientes já inventados. É um veículo movido à propulsão humana, altamente eficiente no consumo de energia, com baixo custo operacional, de aquisição e manutenção; e requer pouco espaço para circular e estacionar. Que é o modo de transporte mais apropriado para distâncias curtas. Que uma pessoa pedalando viaja duas vezes mais rápido, carrega quatro vezes mais carga e cobre três vezes a distância percorrida por uma pessoa caminhando.

Que o impacto ambiental da sua utilização é baixíssimo, pois não produz emissões de gases poluentes nem ruídos. Que a bicicleta pode ser usada em vias com pouca infraestrutura por diversos segmentos da população. Mas em meio a todas as justificativas plausíveis e necessárias, minimizamos — ou esquecemos? — o quanto a bicicleta está para além do ícone

de cidades limpas e sustentáveis. A bicicleta nos dá uma chance de nos reconectarmos aos locais, às pessoas, aos trajetos e às memórias coletivas. (...) A bicicleta é, afinal, o que faz de algumas cidades, boas cidades. É o elo afetivo dos cidadãos com seu entorno e com sua história", escreve, no prefácio, Clarisse Cunha Linke, diretora executiva do ITDP Brasil, que trabalha em planejamento e implementação de políticas e programas sociais.

Lembra ainda Clarisse, citando que em Afuá (na foto acima, feita por Daniel Guth) chama a atenção o fato de que com a bicicleta, a autonomia das crianças é conquistada desde cedo: "Com certeza as sociedades estariam bem menos doentes e

medicalizadas se todos estivessem desde criança explorando suas cidades sentados num selim".

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