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  • Por Maria Shirts

Liberdade e conquista

É o que uma mulher sente pedalando em São Paulo. Há ainda muito para ser feito, mas o principal é acabar com o preconceito e fazer valer esse direito básico de ir e vir

Esses dias assisti ao documentário “Ciclos”, um média metragem sobre mobilidade urbana em São Paulo e na Cidade do México. Breve, mas categórico, o filme mostra a vida de três personagens que se locomovem de bike nas grandes cidades –suas dificuldades, superações e impressões do modal. A fala que mais me impressionou foi a da Aline, uma profissional que faz entregas pela cidade com a sua bicicleta. Ela diz que, enquanto mulher, só se sente verdadeiramente livre quando anda de bicicleta porque pode chegar onde quiser, a hora que quiser. Parece besta, mas faz todo sentido para quem tem algumas (ou várias) liberdades suprimidas ao longo da vida. Ou ao longo de um dia sequer.

Ser mulher é sair na rua e ouvir barbaridades só porque... se é mulher.Por causa disso, muitas não optam por esse meio de transporte. Além do assédio, somos os maiores alvos de assalto na cidade. Recentemente, uma reportagem do SPTV mostrou que uma gangue de meninos assaltou um monte de ciclistas na ciclovia da Avenida Faria Lima, na altura do Instituto Tomie Ohtake. Todas eram mulheres.

Talvez seja por isso que representamos só 7% do contingente de ciclistas na cidade. É muito pouco.Uma reportagem do jornal digital “Nexo” mostrou que o perfil da mulher paulistana que usa a bike como meio de transporte é semelhante ao da mulher paulistana média. “A maioria tem renda de até três salários mínimos. Metade delas tem pelo menos um filho e a maioria usa a bicicleta para tarefas relacionadas ao lar, como fazer compras”, explica a reportagem de Ana Freitas, publicada em setembro de 2016. Os dados são do Instituto Ciclocidade.

Está claro que precisamos de mais segurança para transitar. É um direito básico:o de ir e vir. Mas enquanto a sociedade tiver uma imagem preconceituosa do ciclista, pouco vai mudar. Nos resta pressionar o poder público – como o Instituto Ciclocidade e outros grupos têm feito com tanta destreza.

De minha parte, vou continuar incentivando as pessoas, especialmente as mulheres, a usar a bike como meio de transporte. Espero que, um dia, todas tenham a possibilidade de sentir o que a Aline menciona no filme: liberdade e conquista.

“Ciclos” (30 min). Direção de Alexandre Charro. Para assistir on-line: https://www.youtube.com/watch?v=WHO31WxVwCE

Maria Shirts é cicloativista, pedestrianista e trabalha na Folha de S.Paulo

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