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Por Leão Serva -29HORAS

Nova York vai ter bondes

Em países como os EUA e o Brasil, o bonde foi extinto a partir dos anos 1960 com consequências trágicas para a produção de congestionamentos

Nova York prepara o projeto de uma grande linha de bonde que percorrerá a costa do East River, nos distritos de Brooklyn e Queens, com um total de 26km. O projeto deverá mudar a paisagem da orla da cidade e ao mesmo tempo suprir uma importante demanda de transporte público criada à medida que novos centros se formaram e a população desses bairros passou a depender menos de Manhattan como “centro” econômico e comercial.

O metrô nova-iorquino foi inaugurado em 1904 e não parou de se desenvolver desde então. Mas sua concepção é “cêntrica”, as linhas convergem para Manhattan e as pontas irradiam para os outros bairros.

Antigamente, quando a ilha era o coração, o pulmão e todos os órgãos da vida metropolitana, Brooklyn e Queens concentravam uma população que ia trabalhar na ilha e voltava para dormir, no movimento pendular que provoca grandes congestionamentos de carros e lotação dos transportes públicos, como os brasileiros conhecem tão bem em suas capitais.

No entanto, o encarecimento do custo de vida na ilha, desde o final dos anos 1970, afastou para os outros bairros muitos moradores e negócios, atividade econômica, empregos e poder aquisitivo.

Hoje, mais do que quatro décadas depois, é possível pensar em pessoas acordando em Queens para ir trabalhar no Brooklyn, ou o contrário, sem ter que passar por Manhattan no dia a dia. Para eles, o metrô atual é ineficiente. Por isso, o novo prefeito da cidade, Bill de Blasio, mandou estudar a linha de bonde (hoje chamado Veículo Leve sobre Trilhos, VLT).

O bonde (“street car” para os americanos, ou “tram”) era o transporte público eficiente de grandes cidades do mundo na primeira metade do século 20. Como ele disputava o espaço das ruas com carros, era atacado pela indústria automobilística, que defendia sua substituição por ônibus ou transporte individual.

Por isso, em muitos países mais expostos ao peso desse lobby, como os EUA e o Brasil, o bonde foi extinto a partir dos anos 1960 com consequências trágicas para a produção de congestionamentos. São Paulo é a maior vítima brasileira desse modelo: desde que enterrou 500 km de linhas daquele transporte elétrico eficiente e barato, em 1968, a cidade só construiu pouco mais de 70 km de metrô e melhorou a qualidade de cerca de 250 km de trens, perfazendo depois de 50 anos apenas 70% da extensão da rede de bondes (sendo que a população da cidade mais que dobrou).

Estimativas dizem que um quilômetro de bonde custa cinco vezes menos que o de metrô e cinco vezes mais que a mesma distância de corredores de ônibus eficientes (chamados BRT, ou Bus Rapid Transport). Embora mais caro, o bonde se adapta melhor ao traçado de avenidas já existentes, nas quais divide espaço com carros, como deverá acontecer em Nova York e já se vê hoje em São Francisco ou Milão. Tem menos obras traumáticas, portanto.

Da mesma forma que Nova York, o Rio de Janeiro também está recuperando o bonde. Ironicamente, um trecho central passa exatamente sobre o traçado de linhas extintas em meados do século passado, o que fez com que os trabalhadores na obra do novo sistema tenham descoberto os trilhos do passado, como símbolo da estultice dos homens públicos que aposentaram como ultrapassado o modo de transporte que agora aparece como ideal para o século 21.

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