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  • Por Regina Asonuma

“Gente atrai gente e rua vazia afasta as pessoas”


Denize Bacoccina, cofundadora da startup “A vida no Centro”, trabalha para que o centro de São Paulo seja um lugar não só para trabalhar, mas também morar, se divertir, fazer turismo e aproveitar programas culturais

A startup “A Vida no Centro”, criada em maio de 2017 pelos jornalistas e empreendedores Denize Bacoccina e Clayton Melo, é um hub de inovação e cultura sobre o centro de São Paulo. Está focada na retomada do centro como um local de trabalho, moradia, empreendedorismo, diversão, turismo e programas culturais. Sua missão é integrar as pessoas e empresas que estão fazendo isso acontecer, com cidadãos que são ao mesmo tempo parte e beneficiários dessa mudança de comportamento, por meio de uma plataforma digital que oferece diversas ferramentas e serviços sobre tendências, comportamentos e experiências, além de apresentar o centro para quem mora em outros bairros de São Paulo.

Confira abaixo a entrevista com a Denize Bacoccina, cofundadora de “A Vida no Centro”:

Como surgiu a ideia de criar a startup e plataforma digital “A vida no Centro”?

A startup surgiu para apoiar e apresentar para as pessoas o movimento que está acontecendo no centro, mostrar a renovação e efervescência que vem ocorrendo, os novos restaurantes, bares, baladas, empresas inovadoras, galerias etc. Tem muita coisa acontecendo e acabou se tornando morar no centro.

Você acha que o centro de SP ainda é visto com muito preconceito pelos próprios moradores de SP e pelos de fora?

Há, sim, preconceito como fruto do desconhecimento. O centro passou por um período de decadência. Hoje muitos prédios estão restaurados e São Paulo mudou muito. O centro ficou esquecido por muito tempo, mas o patrimônio arquitetônico foi restaurado nos últimos anos e as pessoas estão se surpreendendo pela arquitetura modernista do centro. Claro que existem problemas, mas eles afetam a cidade toda, como falta de cuidado com o espaço público e as consequências da crise econômica, que aumentou muito o número de desempregados e de pessoas morando na rua. Estamos aqui para mostrar todas as coisas boas que existem por aqui e como as pessoas podem aproveitá-las. Afinal, é no centro que está a maioria dos equipamentos culturais de São Paulo: teatros, museus, e agora até restaurantes badalados.

Qual é a melhor vantagem de viver no centro?

Há muitas vantagens da vida no centro urbano: a facilidade da mobilidade, de encontrar coisas para fazer, o lazer, o acesso ao trabalho e a diversidade de pessoas e classes sociais, entre outras. Eu me sinto muito segura andando na rua porque sempre tem movimento. Até de madrugada tem gente na rua. Gente na rua dá segurança, as ruas são iluminadas. Onde eu moro, na Praça Roosevelt, tem posto policial. Gente protege gente.

E o que precisa melhorar?

Falta zeladoria, assim como na cidade toda. Não é mais perigoso que em outros lugares. Tem morador de rua como em toda a cidade, muita gente perdeu emprego, casa e não tem onde morar. Falta limpeza das ruas, coleta de lixo, mais lixeiras, campanha de educação da população, as calçadas são malcuidadas e pequenos buracos viram poças de água. Acredito que pessoas mais velhas acabam saindo menos de casa por causa das calçadas esburacadas.

Como acabar com o medo que muitas pessoas ainda têm de ir ao centro para frequentar bares, restaurantes e baladas?

Alguns lugares não têm nenhum perigo, são bastante movimentados. Nos lugares que são apenas comerciais, e não tem movimento à noite, eu acredito que andando em grupo as pessoas podem se sentir mais protegidas.

Você que veio de uma cidade do interior e se mudou para SP, como você vê a mobilidade da cidade e as opções de transportes coletivos?

Eu nasci no interior, mas eu vim para cá nos anos 1990. Também já morei fora do Brasil, em Londres e Washington, e nessas cidades não tinha carro, só usava transporte coletivo. Nos últimos anos, morei em Brasília, onde é muito difícil se locomover sem carro. Mas agora, de volta a São Paulo, no meu dia a dia eu uso ônibus, metrô e táxi, quando o trajeto é fora do itinerário ou preciso carregar algo pesado. O carro só sai da garagem para viajar. Eu acho que para quem mora nos bairros centrais o ônibus e o metrô funcionam muito bem. Ainda existe o mito de que carro é mais rápido, mas as pessoas estão começando a ver que nem sempre é assim e estão começando a mudar seus hábitos. Muita gente que vem morar no centro deixa de usar carro. É claro que tem alguns lugares onde o transporte coletivo ainda é deficiente, e precisamos lutar para melhorar.

Como você vê a qualidade das calçadas e quais são as maiores dificuldades do pedestre ao andar pelas ruas?

As calçadas são muito malcuidadas, o que dificulta a locomoção não apenas de cadeirantes. Qualquer pessoa com mais idade tem dificuldade com as calçadas esburacadas, podendo se machucar ou tropeçar a qualquer momento. Até no calçadão é um grande problema.

O que você acha do pedágio urbano, que poderá cobrar tarifas dos que utilizarem determinadas vias públicas? Seria viável adotar essa medida na cidade?

Eu não vejo o trânsito no centro como um problema, as pessoas já não vêm de carro para o centro por ser bem servido de infraestrutura, pela facilidade do acesso por outros meios de transporte, como os corredores de ônibus e o metrô. Outras vias fora do centro ficam bem mais congestionadas, e para reduzir esse congestionamento é preciso melhorar o transporte coletivo e incentivar que as pessoas se locomovam cada vez mais por esses meios.

Várias cidades de países europeus proibiram o uso do carro no centro. Você considera essa medida viável para o centro de SP?

Eu não sou especialista, mas pelo que tenho lido me parece que a visão mais moderna é deixar as ruas com uso misto, residencial e comercial, que é o que dá vida à cidade. A praça Roosevelt é um bom exemplo: tem prédios residenciais, comerciais, bares e teatros, tem movimento dia e noite e eu me sinto supersegura. Eu não acho que tem tanto carro no centro. Acho que as pessoas compreendem que vir de carro para cá é um transtorno. O sistema de trânsito é complicado, as ruas têm uma mão só, e você acaba indo parar longe do lugar onde queria ir. Andar a pé é muito mais fácil, tem metrô e ônibus. O calçadão parece bom, mas acaba sendo ruim porque tira as pessoas da rua e as pessoas não andam em ruas vazias porque dá a sensação de medo. Gente atrai gente e rua vazia afasta as pessoas.

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