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Carro elétrico: não podemos deixar o trem da história passar


Em entrevista ao Pro Coletivo, o engenheiro eletricista Sergio Luiz Pereira, professor livre-docente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade Católica de SP, e co-autor dos livros “Ecoeconomia Tecnológica Cooperativa” e “O Gás Natural e Transição para uma Economia de Baixo Carbono”, fala sobre o carro elétrico no Brasil. A seguir, confira os principais trechos da entrevista:

"É claro que o etanol apresenta uma série de vantagens em relação aos combustíveis derivados do petróleo. Também é fato que simplesmente não podemos desperdiçar todo investimento e conhecimento tecnológico duramente alcançado com o etanol no Brasil. Mas é certo que se deixarmos o trem da história passar, mais uma vez ficaremos na rabeira em termos econômicos e tecnológicos. Temos que aproveitar as nossas conquistas com etanol sem, contudo, deixar de enxergar que tanto a geração de energia limpa como o emprego da energia elétrica na mobilidade são necessidades e realidades iminentes para a mitigação dos impactos ambientais e da melhoria da qualidade de vida de todos."

"O consumo de combustíveis fósseis, tanto para a produção de eletricidade quanto também para o transporte de cargas e pessoas, é a maior fonte de emissões de CO2 – dióxido de carbono –, um dos principais gases causadores do efeito estufa, cujo aumento da sua concentração na atmosfera está contribuindo para as mudanças climáticas devido ao aquecimento global."

"A solução da mobilidade urbana depende de ações coordenadas entre todos os setores da sociedade: planejamento, investimento em transporte sobre trilhos e também mudança de hábitos dos cidadãos. Entretanto, a eletrificação da frota, ou seja, a migração dos veículos automotivos que utilizam combustíveis fósseis para veículos movidos a eletricidade, poderá contribuir para a mitigação de alguns dos principais problemas que o excesso de veículos tradicionais traz. Isto porque veículos elétricos poluem localmente muito menos que os tradicionais, a combustão. São silenciosos e podem quebrar antigos paradigmas relacionados ao tamanho dos carros. Muitos dos novos modelos de veículos elétricos já estão sendo concebidos para serem compactos e dimensionados para uma ou duas pessoas. Ocupam muito menos espaço do que os “carrões” e SUVs e contribuem para a redução dos congestionamentos."

"Segundo o Denatran, os carros elétricos no Brasil representam uma parcela ínfima da frota: são 5,5 mil unidades, ou apenas 0,005% dos 92 milhões de veículos que circulam no país. Já os 100% elétricos são contabilizados em apenas 10%, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE): nada menos do que 550 unidades.

Para se ter uma ideia comparativa do nosso universo, na Noruega eles chegam a 28% do total. Por isso, não podemos perder a oportunidade de investir em uma energia limpa e também na eletrificação da frota veicular. Não podemos fechar os olhos para essa tecnologia que desponta na aurora do amanhã e que em breve suplantará as tradicionais."

"Uma nova geração de veículos elétricos tem sido produzida na Europa, como mostrou em setembro o Salão de Frankfurt, na Alemanha. Muitos deles buscam a eficiência energética, aumento da autonomia e em breve apresentarão índices de performance iguais ou até mesmo superiores que seus concorrentes movidos a combustão.

O veículo elétrico não é mais um futuro distante. É o presente."

"Enquanto o mundo aponta para novas tecnologias, vamos nos manter nas monoculturas e apenas vendendo commodities minerais? Temos território, recursos hídricos, energéticos e biológicos invejáveis. Temos uma população ainda relativamente jovem, formada por diferentes culturas. O nosso potencial humano é muito grande. O Brasil pode continuar sendo um país muito forte no agronegócio e a na indústria extrativista. Porém, o seu passaporte para o futuro imediato necessita ser carimbado com investimentos em ciência e tecnologia de ponta e decisões assertivas para todos os setores produtivos."

"Como os veículos elétricos já fazem parte do futuro e do presente, cabe então perguntar a quem interessa que não sejamos também protagonistas desta tecnologia? Certamente que ao país interessa, sim, desenvolver e promover a racional transição da frota automotiva de veículos a combustão para veículos elétricos."

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