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Mãe e filha de bike em SP


Silvia Ballan é bikerepórter de alguns canais (como CicloBR e Bike é Legal) e idealizadora do blog silviaenina.org e do projeto Cheguei de Bike. Nesta entrevista, ela fala sobre a experiência de andar de bike em São Paulo, do respeito que é necessário nas ruas, por parte de pessoas em todos os modais, e da importância de conviver com os filhos pedalando ou caminhando, momentos em que se tem oportunidade de passar valores e dar exemplos transformadores. Confira a entrevista abaixo:

1. Silvia, você me disse que começou a pedalar aos 14 anos em SP. Nos anos seguintes, você alternou o uso de vários modais, usou apenas um ou optou exclusivamente pela bicicleta?

Dos 14 aos 18 eu fui de bike pra escola e diversos locais de SP e também viajava de bike, pegava estrada. Aos 19,20, quando entrei na FAAP, era curso noturno, optei pelo carro e, para você ter uma ideia, no inicio eu perdia 30 minutos no carro para ir até o Pacaembu; já no final do curso eram duas horas para chegar ao mesmo ponto. Uma crueldade que me fez refletir muito.

2. O que você sente quando está pedalando pela cidade, com a sua filha Nina na cadeirinha?

Eu sinto liberdade, prazer e principalmente me sinto poderosa e inteligente. Optei por um modo simples, rápido e divertido, quer mais? Delicia é o sinônimo de nossos trajetos. Muita cumplicidade e sinergias fazem de nossos caminhos mágicos, em uma cidade que é um caos urbano. É como se estivéssemos numa nuvem linda, sobrevoando o inferno, basicamente.

3. Como você reage ao cenário urbano de SP, com congestionamentos enormes, muita poluição e ainda muito desrespeito ao ciclista e ao pedestre?

Eu fico muito triste, não vejo muita mudança a curto prazo. Vejo pessoas como no filme "The Wall", seguindo a fila, seguindo a máquina. Acho cruel. Temos muitos gases tóxicos e as pessoas se enfurnam nos carros, ligam o ar e nem imaginam que estão piores que eu, pois este ar interno não se renova. O respeito ou desrespeito é individual. Aquela pessoa que fura a fila da padaria é a mesma que usa o celular enquanto dirige, uma pessoa sem nenhum valor moral e de cidadania, não sabe conviver no coletivo. Sinto muito por ela e tenho fé que um dia vai mudar, assim seja.

4. Você pedalou também com a sua filha mais velha, a Beatriz?

Sim. Ela tem quase 20 anos hoje. Nós íamos para escolinha nos anos 2000 de bike e eu nem imaginava a transformação que isso podia ter.

5. Com Nina, como é a rotina de bike de vocês?

Hoje nós acordamos às 6h, tomamos café e saímos no mesmo horário todos os dias, 6h45, e em 15 minutos percorremos aqueles 5 km. O mesmo tempo, mesmo trajeto, tudo certinho. Não precisamos de waze pra descobrir rotas, a gente faz a rota que quiser, como quiser e algumas vezes passamos pelas amoreiras do caminho e colhemos um pouco pra comer no trajeto mesmo. Coisas da bicicleta.

6. Na sua opinião, por que as pessoas têm tanta dificuldade em experimentar novos modais e novos hábitos para se locomover?

Os adultos levam os filhos para escola, elas estão dentro da máquina do sistema, como se não houvesse saída, como se aquilo fosse o único jeito de viver - e eu diria sobreviver, pois não é vida, não. É como muitos empregos e rotinas, fadados ao cansaço e à rotina estressante. Esses adultos se acomodaram em dar tablets e ipads para os filhos nos carros, eles mexem no celular e assim vão mascarando o tempo. Isso não é viver. Imagina se você percorre por dia 40 minutos na ida e 40 minutos na volta para levar e buscar filhos, você fica 400 minutos por semana, 1600 por mês e 14.400 por ano, o que equivale a 240 horas sem fazer nada por ano. É muito!

Outro dia minha filha Nina disse: 'mãe, quando eu crescer vou trabalhar perto da minha casa' e eu disse: 'você provavelmente vai morar perto do seu trabalho, assim fica mais fácil, filha'. Fiquei feliz e preocupada, pois aos 10 anos ela já pensa no caos futuro. Espero que isso mude, que as alternativas para todos sejam acessíveis.

7. O que diria para uma mãe ou pai que deseja transportar seu filho de bike em SP? O que é importante ter em mente?

Eu diria pra me procurar (escreve para chegueidebike@gmail.com). Posso acompanhá-los até a escola, trabalho, diversão e ensinar muitas manhas pra driblar buracos e ruas congestionadas e barulhentas, coisas do trajeto. Me procure, estou à disposição e com dicas incríveis. Só pra contar as boas novas, estou com uma ebike em testes e em breve pode ser uma alternativa aos que não conseguem levar muito peso na bike, crianças + mochila. Bicicleta é incrível, sempre tem um jeitinho para resolver cada caso.

O importante é ter em mente a busca de uma qualidade em seu trajeto diário. De luta pode virar prazer, acredite!

8. Há algum grupo de mães de bike em SP?

Tem um grupinho pequeno que eu montei no whatzapp, facebook. Bem lembrado, vou retomar. Fora isso, não conheço.

9. Há um novo secretário de mobilidade em SP agora, o João Octaviano Machado Neto, no lugar de Sergio Avelleda. O que você considera fundamental na pasta da Mobilidade?

Ciclovias, ciclovias e ciclovias, todas conectadas! Sem ciclovias jamais vamos ter uma cidade maravilhosa para viver. Vou contar um segredinho: toda cidade que você vê muita mulher pedalando é uma cidade melhor para se viver. Imagina que naquela montanha de carros estacionados, enfileirados por horas, parados em vias públicas, você pode ver ciclovias com mulheres e suas crianças passando. Não é muito mais bonito?

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