- Por Carlos Monteiro
Deixem meu quintal em paz!
Pois é gente, novamente essa história de invadirem nosso quintal.
Parece filme repetido nas madrugadas da TV aberta, parece figurinha bisada no envelope finório.
Uma ladainha que, volta e meia, cai no mesmo abstratismo.
Qual a história por trás da história?
A Cobal do Humaitá é coisa nossa. É coisa carioca, é tombada pelo Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro e não poderia ser de outra forma.
Espaço descolado em Botafogo e adjacências, além de polo gastronômico, reúne de tudo um pouco. Tem para todos os gostos cobiçosos de sabores. Tem mercado e chope gelado. Tem arroz de rabada e ‘caipifruta’ no pote. Tem rosa, orquídea, camélia em flor. Tem a Chica, gata manhosa do seu Antônio, que sempre vem dar boas-vindas aos clientes que vão em busca de clima primaveril.
O espaço foi inaugurado em 1971, numa área de quase 10 mil metros quadrados, entre as ruas Voluntários da Pátria, Humaitá e Marques, fronteiriça, ou quase, a Lagoa e o Jardim Botânico.
Inicialmente se destinou, apenas, a venda de hortifrutigranjeiros. Com o passar do tempo, ‘cariocou-se’. Mostrou sua verdadeira face cultural-gastronômica-etílica. Que o digam seus mais de 14 mil visitantes diários (números de antes da pandemia). A Cobal é maravilhosa!
Segundo consta, a Conab – Companhia Nacional de Abastecimento, não vem renovando os contratos que, outrora, se davam a cada cinco anos. Alega que há comerciantes inadimplentes e que teve ganho de causa promulgado pela justiça. Por sua vez, alguns comerciantes se dizem adimplentes e que, mesmo assim, não conseguiram as renovações. Parece um imbróglio com cara de dramalhão mexicano, mas como serão os próximos capítulos dessa novela que poderá levar ao desemprego, direto e indireto, dezenas de milhares de pessoas?
A Cobal tem seu charme especial, tem a cara daquele quintal de casa da vó. Aquela coisa solta e com um certo grau de pasmaceira pós-almoço, local para um bate-papo gostoso, para encontros desencontrados e inesperados de gente muito querida.
Quantas vezes cruzei por lá e acabei ficando por ter encontrado aquele amigo boa-praça, aquela amiga gente boa. Bateu até uma saudade agora da Cristina Chacel, pessoa incrível e um papo adorável. Era na Cobal que “não” marcávamos e sempre nos encontrávamos.
Já rola um movimento em prol do não fechamento ou privatização do local. A galera se mobilizou e, até a noite de quinta-feira, dia 27, já eram exatas 16.842 assinaturas em um abaixo-assinado on-line. Nesse dia aconteceu um abraço coletivo na Cobal, uma forma simbólica de proteger esse lugar que faz parte da história e do patrimônio do Rio de Janeiro.
E meu sábado, repetido quase como um mantra antes da pandemia: compras de frutas, legumes, verduras, mel, peixe, flores, o pão nosso de cada dia, quase artesanal, um acarajé da baiana, regado a uma ‘caipivódica’ de tangerina no pote, um expresso e, para viagem, umas guloseimas árabes e uns engordativos, repletos de afeto, salpicados do mais puro confete doce.
E o arroz de rabada, os pastéis, as tortas, a pizza, o churrasco, o japa...
E as rodas de samba? E as rodas de choro? Querem nos tirar isso?
Querem fechar mais um local que conta a história da cidade?
Querem apagar o passado cultural do Rio?
Nananinanão!
Não põe a mão no meu violão! Desta vez não mesmo!
Tirem o pé do meu quintal!
Ele é meu, é nosso, é de todos, é do Rio.
Para assinar: https://secure.avaaz.org/community_petitions/po/Governo_Federal_Em_defesa_da_Cobal_Humaita/?fpla