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  • Texto e fotos de Carlos Monteiro

Redes ou teias?


Depois de assistir “O Dilema das Redes” (The Social Dilemma) de Jeff Orlowski, em exibição no Netflix, fiquei bastante pensativo no quão manipulados temos sido desde o finado Orkut ou Buscaki.

Todo o alvoroço causado pelo documentário, entre os usuários das diversas mídias sociais, as várias crônicas com reflexões comportamentais, o ‘cair na real’ generalizado de quem assistiu, me fez mais atento. Aquele ‘será’ interno que nos angustia, que me ‘perguntava’ todo tempo: você caiu nessa? Não percebeu nada?

Achava que era mera coincidência ter pensado em comprar aquela câmera nova, aquela camisa, ou imaginado aquela viagem que estava mais para quimera do que para realidade, ter dado uma pesquisada básica, feito um comentário com um amigo próximo e, do nada, começar a ser bombardeado com ofertas do produto pesquisado e de concorrentes em todos os canais que entrava?

Será verdade que sou marionete a serviço do capitalismo selvagem? Será que há uma inteligência artificial capaz de captar meu pensamento e utilizá-lo, de forma arquitetada, conta mim?

Será que o HAL 9000, personagem de "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Arthur C. Clarke, imortalizado nas telonas por Stanley Kubrick, não é mera utopia cinematográfica?

Será?

São tantas notificações, tantos “isso pode interessar você”, tantos debates, ‘lacrações’ e ‘cancelamentos’. Tantos bombardeios diários e aquela sensação de não estar dando conta do que ainda há por vir...

A melhor live, a foto mais impactante, quantos likes? Quem falou mal de quem? Esqueci minha selfie de hoje, aliás, esqueci de postar meu almoço, meu novo look... F5 já, demorou, que ansiedade, são 20 segundos infindáveis para carregar e alimentar minha ansiedade...

Fui relaxar fotografando o Cristo Redentor em festa. Homenagem aos 85 anos de uma rádio carioca, fundada por Assis Chateaubriand. Pura comunicação de massa há quase um século. Chegando ao terraço do prédio, alguns adolescentes confraternizavam, muito provavelmente cansados destes tempos sombrios de isolamento. Estavam animados, talvez inebriados pelas, já vazias, garrafas que jaziam num canto. Apurei, por trás da máscara, na verdade uma bandana, olhos e ouvidos para saber o que comentavam, seu comportamento e, como invariavelmente encontramos como links patrocinados em nossas pesquisas, o que atraía sua atenção.

Fui tomado por um susto, misto de decepção e dilema, o que conversavam era pautado no que estava acontecendo on-time, real time nas redes. Toda conversa tinha uma pontuação do; “você viu o que postaram?”, chegaram ao extremo de, lado a lado, trocarem mensagens pelos celulares. Um deles precisou se ausentar, voltou ‘desesperado’, pois havia esquecido o telefone. Sua preocupação era se alguém havia postado algo, se tinham novas mensagens. Estava um tanto quanto ‘transtornado’. É assustador.

O documentário traz uma citação emblemática do professor de economia política da Universidade de Yale, Edward Tufte: “Existem apenas duas indústrias que chamam seus clientes de usuários: a de drogas e a de softwares.” Somos usuários. É aterrorizante. Será tudo verdade? #Medo...

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