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Você sabe quem criou o piso símbolo de SP?

Chantal Brissac

Foi uma mulher, Mirthes Bernardes, que faleceu em 18 de dezembro de 2020, aos 86 anos, sem sequer ser reconhecida por sua obra tão genial e impactante.


Em 1965, Mirthes ganhou um concurso promovido pela prefeitura para criar o padrão da calçada da cidade, viu seu desenho – com a figura geométrica do desenho do estado de São Paulo – espalhado por toda a capital paulista, além de depois figurar em produtos e marcas diversas, mas ela nunca conseguiu criar uma patente e nem mesmo teve o reconhecimento, inclusive financeiro, merecido por essa obra.

Mirthes Bernardes, a criadora do piso paulistano, idealizado por ela em 1965


Quem trouxe a história de Mirthes à tona foi Wans Spiess, fundadora da plataforma CalçadaSP (@calçadasp), criada junto com Tony Nyenhuis. Publicitária e mestranda em Arquitetura e Urbanismo, Wans é apaixonada pela cidade de São Paulo e por suas calçadas.


Tanto que eles montaram esse projeto para justamente inspirar as pessoas a olhar mais – e com maior carinho – para o equipamento urbano que é tão essencial para a vida de todos. “A CalçadaSP propõe um caminho um pouco diferente: em vez de falarmos dos problemas, da falta de acessibilidade, dos buracos, escolhemos a rota apreciativa, de mostrar as histórias que essas calçadas contam”, ela conta.

Wans Spiess em sua atividade preferida: caminhando e observando as calçadas e a paisagem paulistana


Por isso, uma de suas histórias mais queridas é a da criadora do piso que é ícone da cidade, Mirthes Bernardes, que idealizou a calçada em ziguezague em preto e branco, formado por mosaicos de pedra portuguesa.


Wans, que mantinha contato com a artista há alguns anos, lamenta que ela tenha falecido sem sequer ter recebido o reconhecimento merecido. Na última vez que a encontrou, ela recebeu das mãos da autora do piso paulistano uma preciosidade guardada a sete chaves: “A Mirthes me deu a cópia (digital) de uma carta escrita à mão, na qual traça o histórico da conquista do concurso. Segundo ela, quando tentou patentear o desenho, um advogado sumiu com toda a documentação e ela teve que escrever a história de próprio punho para que não fosse esquecida”.

“Ainda tentamos homenagear dona Mirthes com uma exposição, conversamos com empresas, participamos de editais, mas infelizmente não pudemos dar esse presente a ela em vida. O CalçadaSP quer ser mais uma voz para que seu legado seja preservado e os paulistanos saibam quem é ela”, afirma Wans.


De domínio público, o desenho de Mirthes estampou roupas, marcas, produtos diversos. Várias empresas usaram o padrão criado por ela, sem ao menos dar os devidos créditos. Apesar do enorme sucesso, a criadora não ganhou um centavo sequer por sua obra, que pode ser apreciada em vários lugares, como na avenida São Luís, no calçamento da Assembleia Legislativa de SP, e na escadaria localizada na rua Joaquim Antunes, em Pinheiros, batizada em homenagem à artista de “Escadaria Mirthes Bernardes”.


A Escadaria Mirthes Bernardes, em Pinheiros


Wans lembra que outras mulheres foram responsáveis por pavimentar, criativamente, a nossa cidade – criações brilhantes e praticamente desconhecidas. Uma delas, também destacada na plataforma CalçadaSP, é a artista visual Regina Silveira. Ela fez, em 2015, a calçada da Biblioteca Mário de Andrade, localizada na esquina da Rua da Consolação com a avenida São Luís, na região central da cidade. Intitulado "Paraler", o mosaico ocupa mil metros quadrados e foi feito com dois milhões de placas de porcelanato que formam a palavra “biblioteca” em doze idiomas.

Calçada da Biblioteca Mário de Andrade, feita por Regina Silveira


Décadas antes, em 1973, a paisagista e arquiteta Rosa Grena Kliass concebeu o mosaico de pedra portuguesa da avenida Paulista, propondo canteiros ao nível do piso, o que representou a volta dos jardins ao local. Além disso, os acessos e as metragens da via foram pensados para intensa circulação, o que até hoje torna essa avenida um dos melhores lugares para se caminhar. Ela também foi responsável pela revitalização do Vale do Anhangabaú (1981), com canteiros dispostos em desenhos geométricos e orgânicos.

A arquiteta e paisagista Rosa Kliass, que tem hoje 88 anos

Projeto paisagístico do Vale do Anhangabaú, feito pela arquiteta e paisagista Rosa Kliass


Essas grandes damas e criadoras dos espaços urbanos deveriam ser mais valorizadas e lembradas, ressalta Wans Spiess, destacando também como as mulheres são minoria nos nomes de ruas brasileiras. "É uma grande contradição, pois são as mulheres que mais andam a pé em São Paulo e também no país". Segundo estudo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, feito a partir de dados da pesquisa Origem e Destino do Metrô, as mulheres usam mais (74,6%) o transporte coletivo e andam mais a pé que os homens (62,5%). Somadas, as porcentagens desses meios de transporte resultam 74,6% para elas e 62,5% para eles.


Para celebrar a mobilidade ativa feminina, lutando por melhorias para todos – uma cidade que é pensada para mulheres, crianças, idosos e grupos vulneráveis se torna melhor para toda a população – Wans inaugurou recentemente, no Dia Internacional da Mulher (8 de março), a plataforma @mulheranda. "É para troca de conhecimento e apoio mútuo para termos cidades mais humanas, inclusivas, seguras e equitativas, que convidem as pessoas a caminhar, pedalar e usar o transporte coletivo", diz Wans.


Um projeto sustentável, saudável, acessível e seguro, e que pode se tornar realidade com o envolvimento de todos: sociedade, governos, empresas, instituições. Vambora unidas!

No dia 12 de fevereiro de 1968, na Cinelândia, no Rio, artistas e intelectuais promoveram um protesto contra a censura que proibia tudo. As atrizes Eva Todor, Tonia Carreiro, Eva Wilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengel estavam na linha de frente. Crédito_in Imagens & Visiones

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